Futebol, política e cachaça

terça-feira, 20 de maio de 2008

Mojica: a obra-prima “Finis Hominis” e projetos futuros

Aos 72 anos, Mojica explica sua preferência pelo personagem Finis Hominis, que dá nome ao filme que ele considera a ápice de sua filmografia. Ao mesmo tempo, já adianta o que pode ser o próximo projeto: um encontro sinistro entre os dois personagens loucos criados pelo cineasta.




Unhas aparadas e anel em destaque

Futepoca/Diplô – Qual o senhor considera sua obra prima, seu melhor filme?
Mojica –
Finis Hominis. Um filme lançado trinta e tantos anos antes do seu tempo. Ficou duas semanas em cartaz, que achei até muito, e eu dizia que a fita estava muito avançada. Hoje é a época das igrejas. Mostrava as igrejas tomando conta do Brasil, mas estava adiantado. O bispo iria tomar conta do Brasil. E tomou. Só não consegui fazer uma fita que lutei, lutei para fazer, não deu. Mas se fizesse, estaria como um herói. Chama-se Ereto, o Crente. Um roteiro que escrevi há 25 anos, tentei patrocínio, na raça, mas não consegui. O Crente era exatamente o que eu achava que aconteceria depois do ano 2000, "está preso em nome de Deus. Pega a virgem, gira o rabinho, joga... Tá amarrado". Que merda, não existe porra nenhuma. As minhas esposas mais legais do mundo se tornaram crentes e eu tive de me separar. Olha só.

Futepoca/Diplô – O personagem principal do Finis Hominis é mais nocivo do que o Zé do Caixão?
Mojica –
Segundo Glauber [Rocha], eu deveria unir Zé do Caixão e Finis Hominis. Porque Zé do Caixão é um louco consciente. Finis é um louco inconsciente. São dois loucos de jeitos diferentes. Juntando os dois, tenho um roteiro, deve dar uma loucura total. Se conseguir, através do Encarnação..., verba suficiente, eu faço.

Futepoca/Diplô – Tem muitos projetos?
Mojica –
Sim, muitos. Mas gostaria de fazer realmente a continuação do Finis se encontrando com o Zé do Caixão. Acho que estaria apropriado para a época. Total. Para 2009 ou 2010, é o filme ideal. O encontro.

Futepoca/Diplô – Um dos projetos atuais é o do Canal Brasil, um programa de entrevistas. A pauta é realmente toda voltada a questões místicas?
Mojica –
Não, faço uma entrevista normal com gente como Lobão, Supla, uma porrada de caras famosos. E tem reportagens à vontade. Na Galeria do Rock, na escola de detetive. Fizemos coisas estranhas, a comemoração dos chineses no novo ano. Nossa, o que tem de reportagem diferente... E vamos partir para mais. Tem o fundo do caixão, com coisas do passado, cartas para eu dar explicação. Vem as pragas, que não deixa de ser uma coisa à parte que todo mundo gosta. E as reportagens doidas que a gente vai acompanhando. Acho que o programa vai ser uma opção para sair das coisas tradicionais, das reportagens normais e dos filmes. Você vai ter uma opção diferente, de algo que condiz com você.

Futepoca/Diplô – O senhor já teve outros programas em outros momentos. Esse está mais com a sua cara?
Mojica –
Está mais com a minha cara. Tive uma liberdade para expor e foi aceito. Tenho carta branca como tive na Encarnação.... Pensei que fosse ficar preso, mas tive carta branca. Tive programas como o Show do Outro Mundo, em que realmente não podia me abrir... Acho que o único que tive aberto foi em 1967, Além, muito além do além, na Bandeirantes. Mas incomodou muita gente e eu saí do ar.

Futepoca/Diplô – Quem se sentiu incomodado?
Mojica –
Eu diria o governo, as religiões. Tive contra mim tudo que era seita. Hoje, se tiver que enfrentar alguém, vai ser o bispo [Edir] Macedo. Vou lutar para ter uma entrevista com o bispo Macedo. Se ele não tiver medo de nada, ele vai. E se tiver medo, é porque é falso demais. Ele foi um cara contemplado pela sorte, um jogador de loteria esportiva. Eu não me dei conta, não me tornei pastor no passado, senão passava ele para trás. Como tenho o centro da concentração mental, me fecharam, a polícia me fechou. Se eu pudesse montar a igreja que ele monta, teria muitos seguidores.

Futepoca/Diplô – Uma última pergunta...
Mojica –
A pinga é a Zé do Caixão, vem aí, com paladar ótimo, todo mundo tomou, ninguém ficou bêbado, ficaram inspirados. Inspiração é uma coisa, bêbado é outra.



Confira:
Parte 1 – A cachaça Zé do Caixão
Parte 2 – Cinema: do medo à Encarnação do Demônio
Parte 3 – Jânio Quadros, ditadura e shows de rock
Parte 4 – Censura, drogas e álcool
Parte 5 – Crítica, público e inspiração
Parte 6 – A obra-prima Finis Hominis e projetos futuros
Parte 7 – Futebol e Corinthians, com direito a praga

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