Futebol, política e cachaça

terça-feira, 20 de maio de 2008

Mojica – Crítica, público e inspiração

"E o vento levou..., ninguém conseguiu fazer outro [igual]", revela Mojica. Além da preferência difícil de imaginar, ele ensina os cineastas a fazer filmes que o público goste. "O povo quer ver imagem. E mulher é a atração do cinema."


Futepoca/Diplô – Como você via o fato de conviver com muitos cineastas? A crítica não gostava dos seus filmes, mas os cineastas elogiavam.
Mojica –
Glauber Rocha, Sganzerla, Anselmo Duarte. A crítica tem preconceito, são frustrados, fizeram fitas, mas está engavetado e nunca vai sair. O Glauber Rocha chegou a me pedir para dar aula para o pessoal dele sobre como fazer a fita ser comercial. Falei pra eles: "Vocês fazem filme para vocês?" O público paga para ver o visual bonito. O povo quer ver imagem. E mulher é a atração do cinema.


















Em seu apartamento,
Mojica exibe o caixão
que serve para guardar
o traje do Zé do Caixão.




Futepoca/Diplô – Mojica, nos seus filmes há uma fixação sua com a psiquiatria.
Mojica –
Não acredito em nada disso, nunca conseguiram nada comigo. Uma vez, puseram em manchete de jornal: "Zé do Caixão é louco, está fugindo de ser estudado". Era em Campinas. Os psiquiatras queriam ver se eu era louco. Eu tinha programa em televisão. Chego em Campinas, cheguei na faculdade de Psiquiatria e disse: "Vim aqui ser estudado". Perguntaram quem eu era. "José Mojica Marins, Zé do Caixão."
Apareceu lá um professor, que me chamou de canto e explicou. Não achava que eu fosse louco nem nada, mas precisava da minha ajuda. A mulher dele era apaixonada pelo Zé do Caixão. "Quando começa seu programa, ela pára, não quer mais saber de nada comigo, e só diz: ‘este homem...'" Aceitei ajudá-lo e pedi para passar a noite na casa do casal. Quando chegou a hora do programa, não deu outra. Ela se tornava uma mulher diferente. "Dá licença, dá licença." Ligava a televisão. Aí eu disse: "Nesse dia, eu estava com uma dor de barriga danada, tive que parar o programa não sei quantas vezes". E ela: "O Zé do Caixão tem dor de barriga?".
Na outra cena, disse que tinha repetido três vezes, na outra que tinha escorregado num sabonete que tinham deixado no chão e me machuquei todo. "O Zé do Caixão se machuca?" "Ô, tô todo esfolado aqui, filha. Eu é que faço isso aí." Fui falando até ela ver o mito se desmanchar. Na quarta-feira seguinte, o professor me telefonou e disse que ela não queria mais ver o programa, tinha voltado a ser a mulher de antes e agora era novamente marido ideal.

Futepoca/Diplô – Mas isso é praticamente o enredo do Delírios de um Anormal, só que no filme o casal se dá mal, porque Zé do Caixão existe de verdade.
Mojica –
Baseei-me nesse fato, pedi autorização para ele para filmar. Mas a verdade é que acrescentei isso, porque tenho um público e não podia fazer o Zé se dar mal. Tinha que valorizar o personagem.

Futepoca/Diplô – Qual diretor de cinema o senhor admira?
Mojica –
Em visual, o [Steven] Spielberg. Quem conseguiu um terror legal que marcou o coração de todo mundo foi Roman Polanski, o Bebê de Rosemary, e nunca mais chegou perto. Tentou três ou quatro vezes e nunca achou mais. Foi na sorte.

Futepoca/Diplô – E O Iluminado?
Mojica –
É médio.

Foto: Divulgação
Futepoca/Diplô – Quais são os filmes mais marcantes?
Mojica –
E o vento levou..., ninguém conseguiu fazer outro.



Confira:
Parte 1 – A cachaça Zé do Caixão
Parte 2 – Cinema: do medo à Encarnação do Demônio
Parte 3 – Jânio Quadros, ditadura e shows de rock
Parte 4 – Censura, drogas e álcool
Parte 5 – Crítica, público e inspiração
Parte 6 – A obra-prima Finis Hominis e projetos futuros
Parte 7 – Futebol e Corinthians, com direito a praga

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