Futebol, política e cachaça

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Belluzzo – Marcos, a anticelebridade, e o dinheiro no futebol

Parte 3 da entrevista com Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e diretor de Planejamento do Palmeiras.

Futepoca/Diplô – E hoje tem essa coisa de chamar os jogadores de mercenários, que eles não se emocionam...
Belluzzo –
Os jogadores são mais profissionais, mas eles têm que dar tudo pelo time. Esse negócio do Denílson, que disse que não comemoraria gol contra o São Paulo... Tem que comemorar! O jogador é pago inclusive pra isso, pra comemorar o gol, porque faz parte da relação dele com a torcida e o futebol é feito para a torcida, para o público. O Valdivia é outra coisa, tem uma relação com o clube que é do temperamento dele.
Assim como o Marcão. Você não vai encontrar outro jogador como o Marcão.
Não tem igual, o Marcão podia ir pro Arsenal, ganhar uma nota preta, mas não quis. Porque ele gosta de Oriente, não quer ir embora, está bem no Palmeiras. Nunca se irrita, é incapaz de fazer uma maldade, até fiquei espantado dele ter ameaçado de dar um pontapé naquele cara. É incapaz de fazer mal a uma mosca, está sempre de bom humor.
Tem uma história do Marcão que é inédita, quem contou foi o [Antonio Carlos] Pracidelli. Na final da Copa do Mundo, os organizadores liberaram o campo para que os goleiros pudessem se aquecer, entraram o Marcos e o Pracidelli, e o Oliver Khan e o Sepp Meyer. O Pracidelli falou: “Olha lá, Marcão, está lá o Khan, maior goleiro da Europa, e o Sepp Meyer, que foi um dos maiores goleiros de lá”. E o Marcão: “Pô, vamos lá pedir um autógrafo pra eles” (risos). Isso é o Marcão.
Mas ele é assim. Fui entregar o título de sócio remido pro Ademir da Guia, que não falava também, e hoje está mais escolado, é vereador e tal; e pro Oberdan, uma figura estranhíssima, meu ídolo quando criança. O Marcão falou assim: “não pede pra eu falar nada, eu não sei falar”. É a maior celebridade anticelebridade que conheço.


Belluzzo degusta a cachaça Vale Verde,
oferecida ao entrevistado pelo Futepoca


Futepoca/Diplô – Nesse lance mesmo que o senhor citou, ele toma um chute no estômago e até comentaram que ele poderia ter caído, rolado, mas não cai, ele não faz esse tipo de coisa.
Belluzzo –
Mas ele sofreu tanta contusão que ele pensou “mais uma”...

Futepoca/Diplô – Foi a primeira vez que vi ele se proteger em um lance desses...
Belluzzo –
Da última vez que ele se machucou, caiu sem levantar o joelho, vieram e deram uma pancada nele.

Futepoca/Diplô – Por que não podemos descartar a possibilidade do Valdivia ir pra Rússia, por exemplo? Um país com menos futebol que o Brasil, menos audiência, eles conseguiram superar os clubes brasileiros?
Belluzzo –
Ali é a máfia, se você tirar a máfia... É o problema do economista que foi chamado para resolver o problema de uma carga que não podia ser retirada por um guindaste. Chamaram um engenheiro que disse que precisava de um guindaste duas vezes mais potente, mas não podia entrar no poço. Daí chamaram o economista, que falou “Bom, abstraindo o peso da carga...” (risos). Assim, se você tirar a máfia russa...

Futepoca/Diplô – Mas há também outros lugares, como a Turquia, que não tem a mesma tradição do Brasil.
Belluzzo –
A diferença é o fato de estarem na Europa e poderem pagar, por exemplo, € 6 milhões pra um contrato de dois anos pro Alex. O Palmeiras tentou trazer o Alex, ele queria vir. Mas, o Alex é o maior ídolo do futebol turco, e é a primeira vez que eles passam pra uma quarta-de-final da Liga dos Campeões. É o jogador mais inteligente do mundo, em matéria de inteligência futebolística, de percepção de jogo, pra enfiar bolas, não se compara com ninguém. É um jogador atípico, parece que está desinteressado, mas decide o jogo em uma jogada. Imagina, se coloca o Alex com o Luxemburgo, nem vou assistir jogo no Parque Antarctica, só vou quando for pra entregar a taça. Além do quê é um excelente caráter, muito identificado com o clube, mas não dá pra pagar isso em um contrato de dois anos.



Confira:
Parte 1 – Palmeirenses não gostam que eu diga, mas São Paulo é mais profissional
Parte 2 – Luxemburgo e Lula são gênios do povo brasileiro
Parte 3 – Marcos, a anticelebridade, e o dinheiro no futebol
Parte 4 – Na reunião com Lula, os desafios para o Brasil e para o mundo
Parte 5 – Novo Bretton Woods e a China

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