Quando chegamos para a entrevista com José Mojica Marins, em seu estúdio no Centro de São Paulo, topamos com o cineasta no balcão de um bar ao lado do endereço que seu assessor (e também genro) havia nos passado. Identificados, ele logo explicou que um vazamento no prédio iria atrasar um pouco nossa conversa. A relação com algum indício de fenômeno sobrenatural foi logo aventada, mas preferimos a versão de que o edifício era bem antigo mesmo.
Já no estúdio, vemos rolos de filmes, cartazes e capas de revista onde o mais famoso personagem de Mojica, o Zé do Caixão, é a estrela principal. Alguns outros objetos soturnos também completavam o ambiente algo tenebroso, que contrastava com a simpatia e a acolhida do cineasta e das outras pessoas que trabalham no local.
Como parte do ritual de nossas entrevistas, oferecemos uma cachaça artesanal para o nosso entrevistado, uma Cachaça da Tulha. Mas fomos surpreendidos com a informação de que Zé do Caixão também emprestaria seu nome para uma aguardente. Aliás, para dois tipos da “marvada”. Logo, a mesa tinha mais duas garrafas da dita cuja, obrigando os entrevistadores a também degustar do produto que será lançado em breve no mercado.
Durante as quase duas horas de conversa, Mojica falou sobre seus filmes, em especial o que será lançado ainda este ano, Encarnação do Demônio, que encerra a trilogia iniciada com À meia-noite levarei tua alma e Esta noite encarnarei no teu cadáver. Encerra? Talvez não, segundo o que o próprio Mojica deixa escapar, revelando uma certa pressão para que Zé do Caixão (ou Coffin Joe para os fãs gringos) não pereça em sua eterna busca pela mulher perfeita.
Ele também falou sobre seu envolvimento com política, em especial quando foi candidato a deputado federal apoiando Jânio Quadros para governador. A propósito, dá sua versão para a renúncia do presidente: Jânio estaria sendo chantageado em função do rapto de sua filha. Já quando o assunto é futebol, Mojica lançou uma praga contra aqueles que desrespeitam o seu Corinthians.
Confira aqui a entrevista com o cineasta, regada a moderadas mas constantes doses de cachaça. Mas é bom se benzer antes, por via das dúvidas...
Os sobreviventes: Maurício Ayer, Anselmo Massad, Glauco Faria e
Nicolau Soares, autores da entrevistas. Ninguém quebrou sequer um
copo, atestando, até agora, que a praga do Zé do Caixão não procede.
Confira:
Parte 1 – A cachaça Zé do Caixão
Parte 2 – Cinema: do medo à Encarnação do Demônio
Parte 3 – Jânio Quadros, ditadura e shows de rock
Parte 4 – Censura, drogas e álcool
Parte 5 – Crítica, público e inspiração
Parte 6 – A obra-prima Finis Hominis e projetos futuros
Parte 7 – Futebol e Corinthians, com direito a praga