Mojica descreve episódios que levaram "o homem mais covarde do mundo", como ele mesmo se define, para ser o rei do terror brasileiro. Esbarra em ufologia e diz que os ETs já estão entre nós.
Futepoca/Diplô – Sua carreira no cinema é toda em cima do medo. De onde surgiu isso?
Mojica – Acho que fui o homem mais covarde do mundo, muito medroso. Aí, chegou uma hora que não tinha como fazer, estava noivo da mulher mais linda do Brasil. Pertencia à colônia espanhola, era capa de revista direto e, queira ou não, se apaixonou por mim e eu, por ela. Aí tive que raptá-la, mas de um jeito diferente, com apoio dos irmãos e da mãe. Raptei e a levei para a casa da própria mãe do meu sogro. Mandei uma carta dizendo que estava na Argentina, pedindo que autorizasse o casamento. Para não passar vergonha, ele autorizou.
Eu era muito medroso e me perguntava: "Como vou me casar e viver com uma mulher se só durmo com a luz acesa e tenho que escutar a voz do meu pai e da minha mãe?”. Puta que o pariu! Eu era considerado um cara violento demais na aparência, era ator, tinha 18 anos. "Como faço, se passo que sou de uma coragem fora de série, mas sou medroso." Aí, tomei coragem.
Cemitério da Consolação, 1956. Vou direto, assobiando Acorda, Maria Bonita, pulei o muro, fui perto de uma cova. Via sempre no cemitério aquelas coisas surgindo, diferentes, uma coloração verde, amarelo, vermelho, e não sabia o que era. Tinha de descobrir. Vinha assustado, junto com um amigo, e era o fogo-fátuo. Quando você morre, seu cadáver está em decomposição, sai aquela coisa estranha, colorida, muito bonita. Na época não consegui filmar, porque não tinha um negativo com sensibilidade que tinha essa resolução.
Hoje, você pode pegar um cemitério onde houve um massacre, e há muitos corpos [recém-enterrados] em decomposição, e você vai ver coisas sensacionais que nunca viu na vida. Parece fantasma verde, amarelo, azul. Pulei o muro do cemitério da Consolação e cheguei perto de um túmulo e vi um recém-falecido, mas não vi nada. Fui me afastando uns 30 metros, nascia aquela imagem verde e amarela, que era o fogo-fátuo. Quando cheguei perto, desapareceu. Aí falei: "Não existe a não ser na minha mente, isso tem uma explicação científica".
Desse dia em diante, eu pulava o muro, nunca mais teria medo de cemitério, de corpos em decomposição, enfim, perderia o medo completo. E aceitaria me casar, porque enfrentei e destruí meu próprio medo.
Isso é realmente o que aconselho às pessoas. Aquilo que elas têm medo, têm que enfrentar. Não tem que dar aqueles dois segundos e voltar para trás. Você vai em frente, enfrenta, e volta. Você é outro homem. Passei a ser um homem dono do medo, eu passo medo nos outros. Eu faço os outros sentirem medo, convivo com cadáver, com vermes. Vocês vão ver Encarnação do Demônio, que vai sair agora... Sempre disseram: "Não, você faz nos outros". Agora eu deito, e mando encher de aranhas, elas vêm nos meus olhos, já saiu o trailer. São muitas aranhas, cobras... "Pode pôr mais perto do rosto". Disseram: "Não, mas pode te acertar o olho". "Se me acertar é acidente de filmagem" (risos). Pus a cobra e ela dá picada perto dos meus olhos.
Eu era um homem que, só de falar em cobra, dava um pulo. Depois, passei a fazer nas pessoas, só que elas viram que eu já não tinha mais medo. Aí, topei no Encarnação fazer, para mostrar que não tenho medo. Afogo minha companheira onde ninguém – 70 técnicos – ficou, em três mil baratas. Pensei que só mulher tinha medo de barata, mas nenhum técnico chegou perto. Paulo Sacramento [produtor do filme] ficou no terceiro andar com uma vigia para ver se alguma barata ultrapassava a porta.
Mojica – A gente fez uma fita que, a cada dois minutos, vocês vão pular da cadeira. A última fita de Jece Valadão (foto), um homem que fez uma coisa que nenhum homem faz. Deu uma entrevista para todo o Brasil nos jornais, dizendo que, se acontecesse alguma coisa, não seria a maldição de Zé do Caixão. "Estou doente, vou fazer minha última fita, porque quero." Quis e mesmo no leito da morte ele disse "Você não tem culpa, eu entrei sabendo que iria morrer". Mas sensacionalismo não dá para afastar. Só que eu prometi que, se ele não terminasse as filmagens, iria tirá-lo da fita, mas não tirei. Consegui fazer ele aparecer até o fim do filme.
Mas deu tudo certo. Fiz o filme e acredito que cada pessoa que assistir vai ter pesadelo à noite. E a continuação vai sair. Está muito forte.
Futepoca/Diplô – Quando será lançado?
Mojica – Não decidi se é para maio ou agosto. Para maio está pronto, mas agosto tem um dia muito legal: 8 do 8 de 2008. A gente está com esse problema das Olimpíadas concorrerem com a gente (risos). Acho que até o fim do mês eu decido se lanço antes ou depois. O certo seria em agosto.
Futepoca/Diplô – A maldição do Zé do Caixão é uma coisa que lhe incomoda?
Mojica – Não, o Jece Valadão entrou falando que poderia morrer no meio da gravação e morreu. Mas não deixei de mostrá-lo na fita inteira, que não perde sua essência, que tem um dos maiores monstros do nosso cinema. Não tem nada com a maldição, são coincidências que, infelizmente, me perseguem. Como aquela coisa do Hitler: se você pegar uma mentira e repeti-la demais, ela deixa de ser mentira.
Pega uma mulher medrosa e fica repetindo: "Você tem coragem. Você tem coragem". Ela sai matando por aí. E o homem covarde como for, se repetir: "Você tem coragem", ele se torna, porra, um super-herói por aí e acaba acreditando. A mente capta. Isso é comprovado por pesquisas. Sou um homem que tem milhares e milhares de livros. Tudo o que é revista sobre fenômenos tenho em casa.
Não sabemos o que acontece depois da morte, é o maior enigma da humanidade. Haverá vida? Agora, que existe [vida] em outros planetas, com certeza. Seríamos muito egoístas se nós aqui, tão pequenininhos, poderíamos achar que somos os únicos. Acredito, inclusive, que extraterrestres já estão na terra há muito tempo preparando os nossos cérebros. Não acredito que a televisão, a fotografia, o computador, o cinema tenham sido feitos por seres humanos, mas por seres bilhões de anos à nossa frente. Os extraterrestres já estão entre nós. Não se manifestam porque muitos não estão preparados, vão dizer que é coisa do demônio... Mas eles vão aparecer, vão sair do armário. Quem sabe eu não estou falando com um aqui.
Confira:
Parte 1 – A cachaça Zé do Caixão
Parte 2 – Cinema: do medo à Encarnação do Demônio
Parte 3 – Jânio Quadros, ditadura e shows de rock
Parte 4 – Censura, drogas e álcool
Parte 5 – Crítica, público e inspiração
Parte 6 – A obra-prima Finis Hominis e projetos futuros
Parte 7 – Futebol e Corinthians, com direito a praga
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