Futebol, política e cachaça

terça-feira, 20 de maio de 2008

Mojica: a cachaça Zé do Caixão

Mojica licenciou seu personagem mais célebre para uma marca de cachaça e estuda lançar até um vinho. Garante que em seus filmes não tem bebida cenográfica. "A gente já é ator por natureza, mas aí ao sentir o vinho de verdade, pô, você viaja no tempo e faz o personagem como tem que ser feito".




Futepoca/Diplô – Em geral, começamos a entrevista degustando uma cachaça. O senhor bebe, aceita?
José Mojica Marins –
Vou lançar a cachaça Zé do Caixão. Depois vem a cerveja, o vinho talvez. Vocês vão experimentar.

Futepoca/Diplô – O senhor já provou?
Mojica –
Já experimentei, aprovei, acho que tá legal. Vai ter cerveja, gim e a cachaça. Se não der certo, vamos produzir pelo menos a cachaça. Tive uma no passado que explodiu na praça. Só que os caras, depois que começou a entrar muita grana, fizeram uma cachaça vagabunda e eu mesmo brequei, não quis que saísse mais. No momento, todo mundo ficou doido, encomendaram caixas, milhares e milhares. Quando provei, falei: "Caceta! Vocês puseram álcool puro!". Aí eu cortei.

Futepoca/Diplô – Durou quanto tempo?
Mojica –
Três meses, porque quando saiu, esgotou. Aí os caras pediram a segunda remessa, quando falsificaram. Não deixei sair a terceira vez, fui à televisão, fiz questão de acabar com a firma. Por besteira, tinham tudo na mão, e fizeram uma bebida ruim, somente para ganhar um dinheiro a mais. Vi que não era a que o povo estava tomando. Para se ter uma idéia, saíram 3 mil garrafas no início e, na segunda remessa, passou para 30 mil.

Futepoca/Diplô – A nova não corre esse risco?
Mojica –
Essa nova é dentro desse padrão, então essa é boa. Ela pode sair normalmente, já autorizei. Deixa eles provarem as duas [o genro e assessor serve as doses]. Não adianta o cara querer falar de cachaça sem provar, tem que entender um pouco. Senão vou fazer a pergunta: "Por que não toma?" Tomar pela boca, né? Tem outras formas.

Futepoca/Diplô – A aprovação foi feita pessoalmente?
Mojica –
Eu aprovei. Tinham mandado outras, essa foi a escolhida. Eles trouxeram o rótulo para eu ver, achei legal, deve sair no fim deste mês ou no início do próximo. Aí entrou uma firma de vinho que é meu negócio mesmo, para fazer também com a marca do Zé do Caixão...

Futepoca/Diplô – Vinho tinto?
Mojica –
É, tinto acho mais legal. Comecei a minha vida de beber em A meia noite levarei sua alma em que tinha de tomar um vinho. Aí o diretor de fotografia, um puta amigo meu, trouxe um da Itália. Tomei o vinho, e queria tomar a toda hora (risos). Aí em Esta noite... também pus os barris.

Futepoca/Diplô – Então, quando tem vinho em cena nos seus filmes, é de verdade?
Mojica –
Não tem essa de corante, quero vinho mesmo e bebo. A gente já é ator por natureza, mas aí ao sentir o vinho de verdade, pô, você viaja no tempo e faz o personagem como tem que ser feito. Ele [Zé do Caixão] é um bêbado que se embebeda porque... Ah, o Zé é um cara muito... Mas finalmente vai nascer a criança que ele tanto espera. Então, ele se embebeda. Mas, como todo ser humano, quando vem o medo de morrer, o cara volta. Então, quando os caras pegam pra matar e ele sente que vai morrer, acaba a bebedeira. Mas é normal, com você, com você, com você, com você, se estiver bêbado e sentir que vai morrer, num instante, não sei para onde vai o álcool, ele some, se junta, não sei, você volta à realidade.
Eu era um cara que tinha muito medo de entrar em um avião. Tinha um amigo, Augustinho dos Santos, era em 1973, e eu tinha que ir para a França de avião. Mas havia uns compromissos, não pude ir, e pedi para ele me representar, em fotos e tudo. Só que o avião explodiu a um quilômetro da França.
Sempre tentei me embebedar dentro do avião. Para ir para a Espanha, tomei 52 garrafas de vinho em 12 ou 13 horas, para a baldeação rumo à França. Mandei pôr mais vinho, acabei com o estoque do avião. E não fiquei bêbado, não fico, porque tenho medo. Experimentem fazer isso com o que você mais tem medo. Tem medo de um cadáver em decomposição? Se embriague, e vá para um necrotério, peça para ver um cadáver. Quando você levanta a cabeça você está bem, vão pensar que é milagre, mas faz parte da gente. É tão forte o sentimento, que ele tira a bebida, que você fica bom.



Confira:
Parte 1 – A cachaça Zé do Caixão
Parte 2 – Cinema: do medo à Encarnação do Demônio
Parte 3 – Jânio Quadros, ditadura e shows de rock
Parte 4 – Censura, drogas e álcool
Parte 5 – Crítica, público e inspiração
Parte 6 – A obra-prima Finis Hominis e projetos futuros
Parte 7 – Futebol e Corinthians, com direito a praga

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