Parte 1 da entrevista com Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e diretor de Planejamento do Palmeiras.
Futepoca/Diplô – Como o senhor vê a questão do fluxo de jogadores do Brasil para a Europa?
Luiz Gonzaga Belluzzo – A diferença de poder econômico entre os clubes daqui e os de lá é muito grande. O futebol faz parte da cultura do país e merecia ser tratado de uma outra forma, inclusive com participação mais ativa do Estado. Aliás, em uma reunião com o presidente Lula, sugeri uma fórmula para fortalecer os clubes financeiramente. Pelo campeonato brasileiro, por exemplo, os clubes receberiam, além dos direitos de transmissão, em torno de R$ 200 milhões no total, outras duas cotas de patrocínio. Uma poderia ser da Petrobras e outra do Banco do Brasil, cada uma com R$ 200 milhões também. Seria uma forma de deixar os clubes em condições de segurar um pouco mais seus jogadores. Mas o presidente fez que não era com ele...
Há outros problemas. Aqui, as emissoras de televisão escondem o patrocínio, cortam o boné quando entrevistam os jogadores. Falei outro dia com o diretor comercial da Fiat que me disse: “Poxa, mas nós gastamos R$ 100 milhões por ano na Globo”. O que acontece: o clube, que precisa do patrocínio na camisa para sobreviver minimamente, e o patrocinador encontram resistência por parte da empresa que transmite os jogos. Não há uma discussão racional, não tenho o hábito de desconhecer os interesses particulares dos intervenientes nesse jogo. Mas acho que não é interesse a longo prazo da Globo, como uma empresa que transmite e ganha dinheiro com o futebol, porque o que ela ganha com o futebol não é apenas com o anúncio durante os jogos, mas com toda a grade de programação que gira em torno do futebol. Eles sempre reclamam que os clubes não tratam dessa questão profissionalmente, o que é verdade, mas também fala de profissionalismo de um ponto míope, estreito, porque poderia ganhar muito mais com o futebol se tivesse uma relação mais ampla com os clubes, se ela abrisse mais o leque da negociação.
Nessa última negociação, tanto o representante do Corinthians, Luis Paulo [Rosemberg], quanto eu, propusemos uma empresa internacional que negociou os direitos da Liga Inglesa para negociar profissionalmente os direitos de televisão e que levaria uma comissão por isso. A proposta foi recebida com tal hostilidade pelo Clube dos Treze, especialmente da parte do Eurico Miranda, que disse que eu queria levar 10% da negociação e que a empresa era minha. Respondi: bem que gostaria de ter uma empresa que fizesse isso, mas não tenho. Esse é o problema, há uma promiscuidade entre o negociador da Globo e os negociadores do Clube dos Treze, é muito ruim quando eles trocam de posição e um passa a representar o outro. E se estabelece uma negociação desequilibrada.
Futepoca/Diplô – Isso impediu a Record de transmitir o campeonato brasileiro. A Record não entrou por quê?
Belluzzo – Porque o direito de preferência dá a ela uma desvantagem enorme.
Futepoca/Diplô – O senhor defende o direito de preferência?
Belluzzo – Sou contra.
Futepoca/Diplô – O Fábio Koff é a favor.
Belluzzo – Sim, é a favor.
Futepoca/Diplô – O senhor é contra essa fórmula de negociação...
Belluzzo – Por isso estávamos defendendo uma empresa contratada pelo Clube dos Treze, que fizesse a negociação profissionalmente, porque não existe isso no Clube dos Treze.
Futepoca/Diplô – O senhor vê algum clube brasileiro que tenha uma gestão do futebol profissional melhor, acima da média?
Belluzzo – O clube que conheço que tem uma gestão um pouco melhor é o São Paulo. Indiscutivelmente. É o time que está mais profissionalizado, tem uma estrutura administrativa muito distinta e à frente dos outros. Os palmeirenses não gostam que eu fale isso, mas sou obrigado a falar porque é verdade (risos).
Futepoca/Diplô – Por que isso ocorre?
Belluzzo – O São Paulo tem uma oposição muito atuante, mas que é capaz de dar continuidade à administração anterior. Tem uma tradição de administrações bem sucedidas e procurou sempre ter uma assessoria muito bem qualificada, tanto de marketing, quanto de planejamento. O esquema que o São Paulo tem de comprar e vender jogadores, nenhum clube tem, o Palmeiras não tem ainda, começa a ter. O São Paulo tem como meta disputar a Libertadores, por quê? Porque ele quer ganhar, mas também porque dá dinheiro. Se você chega até a final, você termina o ano com a burra cheia.
O centro de treinamento deles em Cotia é espetacular, é o que queremos fazer com o Palmeiras em Guarulhos, o Palmeiras tem uma área lá. Além de uma comissão técnica e de auxiliares muito boa. Milton Cruz, por exemplo, observa jogadores. Quem se lembrava do Miranda? Ele foi lá e indicou. É algo profissional que eles criaram lá dentro e funciona muito bem.
Futepoca/Diplô – Mal comparando, o São Paulo instituiu uma “política de Estado” enquanto os outros fazem “políticas de governo”?
Belluzzo – Perfeitamente, para entrar na questão política. É isso mesmo. O jogador é contratado pela política anterior e é mal visto pela atual diretoria, em outros lugares. Isso não é amadorismo, é uma coisa estúpida. No São Paulo, tem continuidade. O clube já começa a contratar um jogador antes de vender outro, porque já sabe que vai vender. Agora, eles deram uma bobeada, desmontaram o time. Estou fazendo uma observação técnica. Como diz o Roque Citadini, tenho mania de ser técnico de futebol (risos). Eles venderam o Souza e o Leandro, dois jogadores que davam liga, e agora estão jogando desconjuntados. Mas sempre fizeram isso, nunca fizeram co-gestão com ninguém, mas sempre estão disputando campeonatos.
Confira:
Parte 1 – Palmeirenses não gostam que eu diga, mas São Paulo é mais profissional
Parte 2 – Luxemburgo e Lula são gênios do povo brasileiro
Parte 3 – Marcos, a anticelebridade, e o dinheiro no futebol
Parte 4 – Na reunião com Lula, os desafios para o Brasil e para o mundo
Parte 5 – Novo Bretton Woods e a China
Futebol, política e cachaça
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Belluzzo – Palmeirenses não gostam que eu diga, mas São Paulo é mais profissional
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Luiz Gonzaga Belluzzo
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